22 de jan. de 2012

"Pinheirinho" e Esperança

Moradoras do Pinheirinho em São José dos Campos [UOL]
Ele saiu do Ceará para encontrar com ela no Rio Grande do Sul. Antes de chegar a São Paulo, teve uma passagem rápida pelo Paraná. Finalmente, parou num barraco sem nome de rua, quer dizer não tinha rua, e nem número de casa, numa área invadida, no Jardim Monte Cristo em Suzano [Hoje, está instalado o Parque Max Feffer]. 

Nem ele e nem ela sabiam ler, mas ambos, não tinham problemas com trabalho. Capinar terreno, vender sorvete, recolher lata de alumínio, maça do amor, algodão doce, lavar roupa, o que aparecia, eles se propunham a fazer. A família, mesmo muito numerosa, se acomodou num “cômodo” só e ainda assim sempre tinha lugar para o sertanejo que chegava e não tinha para onde ir. 

Todos naquela vila que se formava se ajudavam mutuamente, todos desejavam sobreviver. Tinha até o barraco-igreja, onde as famílias se reuniam para fazer orações e vislumbrar um futuro melhor, afinal, a única coisa que possuíam, além dos filhos, era a barriga vazia, a esperança e a fé. 

O “Pinheirinho” de Suzano, semelhante ao de São José dos Campos, além de também ter dias contados, ele teve um algoz. O Prefeito, que é político até hoje, inclusive eleito, num dia pela manhã, deu ordens para polícia chutar a porta dos barracos e colocar fogo em tudo, mesmo tendo sido aquele que deu telhas em troca de votos na época de campanha. Ele fez questão de acompanhar pessoalmente tudo de cima de um trator. Alguns mais exaltados fizeram o enfrentamento e tiveram que amargar a dor da agressão, da prisão e da morte, mesmo aqueles que correram para o barraco-igreja quase que esperando salvação do Senhor. Ele até que conseguiu arrancar o barraco, os poucos objetos que possuíam, a pouca roupa, mas não conseguiu tirar das famílias a fé. 


As famílias foram todas postas para correr no mundo. Como ratos, cada um correu para um canto. A família do cearense conseguiu repouso durante alguns meses na casa do missionário ferrazense, vindo, posteriormente, morar em Poá, no bairro de Calmon Viana, numa casa alugada. Todo rendimento da casa, que era sustentada apenas pela filha mais velha que tinha 14 anos, era para pagar o aluguel, não dava para comer. Antes, morrer de fome, a ter o medo que não deixa reagir, a ver sua família sendo segurada pela gola e cuspida no rosto. 

Mesmo sentindo-se estrangeiro em sua própria terra, sentindo-se invadido, impotente diante das ameaças do mais forte, o novo poaense, seguindo conselhos da filha mais velha, limpou o nojo da saliva que descia pela face da família, levantou a cabeça, estufou o peito e finalmente, seguiu em frente com uma esperança imortal.

A Esperança, apesar de banalizada, somente ela cala pessimistas e revoga os decretos do Destino. Ela não procura construir castelos nas nuvens, não doura pílulas, não promove viagens alucinógenas. Todo esperançoso se torna companheiro de valentes, de intrépidos, de aventureiros. Nele, pulsa o coração de um batalhador, de um lutador. 

Esperança é a força derradeira que anima o velho e o brilho que anima os olhos da mãe quando embala o filho. Abraão, Moisés, Martin Luther King Jr., Francisco [o Cearense] e Conceição [a Gaúcha], meus avós, Maria Lúcia [a filha mais velha], minha mãe, foram pessoas que navegaram nas águas da Esperança; oceano que conhecemos tão pouco, mas que sem ele a gente não chega a lugar nenhum!

Com esta mensagem dedico minhas solidariedade aos vitimados do "Pinheirinho" de Suzano e também aos vitimados do Pinheirinho de São José dos Campos!  Força e Esperança Pinheirinho, afinal, se cheguei onde cheguei se deve, sobretudo, a esperança imortal da minha mãe e de meus avós!

3 Comentários:

  1. Saulo... como vai tudo bem?

    Cara...li o texto que blogou e fiquei perplexo... pois nele existe uma relação entre o problema do Pinheirinho em São José dos Campos com algo que, segundo o texto, aconteceu em Suzano e exista alguma semelhança.

    Por favor me de alguma pista sobre o modo como este texto tenha sido escrito. Qual é a origem dele? Quem poderia ter sido o formulador desta possibilidade?

    Pois o que mais o Governo Popular de Suzano fez nestes 7 anos foi procurar garantir o direito à moradia.

    A cidade até 2005 não possuia, sequer, uma política de habitação. Hoje está a disposição do poder público que venha a assumir os próximos períodos do destino da cidade e da própria população, toda uma sistematização de uma eficaz política habiltacional.

    Se for necessário posso detalhar as ações que estão planejadas para garantir a moradia como um direito das pessoas, além de ações de curto prazo que já foram estabelecias e produzem resultados para mais de duas mil famílias desta cidade.

    Saulo... por favor me informe quem foi a mente criminosa que formulou o texto equivocado e carregado de impropriedades que está reproduzida em seu blog.

    Na esperança que nunca descansa, aguardo sua resposta.

    Grande abraço.
    Rosenil.

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  2. Rosenil, o texto é de minha autoria. Talvez não tenha ficado claro parceiro, mas os fatos narrados se referem a década de 70, quando existia uma ocupação irregular na área onde hoje está situada o Max Feffer. Minha mãe, então com 14 anos, e sua família, foram uma das vítimas da violência policial naquela época. Abraço companheiro!

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  3. Ok Saulo, meu querido companheiro, agora deu para entender melhor. Inclusive você trás uma nova abordagem sobre a problemática da organização de nossas cidades. Pois em Suzano, assim como Poá e outras cidades de nossa região e de nosso país, todas foram vítimas de uma ocupação desorganizada e sem planejamento. Isto criou um ambiente propício para aquilo que denominamos especulação imobiliária. Em Suzano, cidade onde componho atualmente o Governo Popular, travamos diariamente uma luta quichotesca pra implantar o direito à cidade.

    Nossa maior dificuldade é enfrentar o poder econômico local que durante mais de trinta anos dominou politicamente a cidade. Hoje eles ainda possuem braços significativos de poder e conseguiram atrapalhar o Governo Popular de Suzano, conduzido por Marcelo Candido, na aprovação do plano diretor da cidade.

    Infelizmente este poder, muitas vezes não percebido pela população, possui influências significativas na câmara municipal, e através de vereadores subalternos a eles, conseguem postergar as mudanças que a população quer que sejam implementadas através de uma nova política que está em andamento através do Governo Popular.

    Por conta disto vejo que este nosso debate se torna importante. Pois todos que venham a acessar seu blog poderão ter uma visão mais ampla do que realmente acontece em nossas cidades.

    Falo isto por conta de você ter situado algo que ocorreu na década de 1970, onde a cidade de Suzano era comandada por um conjunto de forças que são idênticas às que dão suporte às violências do Pinheirinho. Porém hoje, desde 2005, a realidade política da cidade de Suzano é outra.

    Obrigado pelo debate e grande abraço.
    Rosenil.

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Obrigado pelo seu comentário! Saulo Souza